domingo, 8 de maio de 2022

Liturgia do IV Domingo de PÁSCOA – ano C

 

“Vi uma multidão imensa, que ninguém podia contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas”. A universalidade destas palavras da segunda leitura deste Domingo é contrária com o espírito que domina o mundo de hoje. Um espírito que é elitista, que divide, que suspeita de tudo o que é estrangeiro, de outra cor, de outra religião ou de outra língua. Um espírito que não é acolhedor e que desconfia daquele que foge da guerra ou da pobreza. O espírito da Páscoa, o espírito do Pentecostes é um espírito sem fronteiras, que reconhece como filho de Deus todo o homem e toda a mulher. Baptizado, ou não, todo o homem, toda a mulher, é filho, é filha de Deus. Santo Agostinho afirmava, já no século V, que o cristão, pelo baptismo, converte-se naquilo que é: já é filho de Deus pelo fato de ser humano. O baptismo convida-o a converter-se e a viver com o próximo, reconhecendo-o como irmão e irmã.

A imagem de Jesus como pastor, que aparece todos os anos no quarto Domingo da Páscoa, reforça a imagem de um Deus que ama, que está próximo, que acompanha, que acolhe, que enxuga as lágrimas e não a de um Deus justiceiro ou vingativo. Um Deus que conhece a nossa voz e que quer a nossa felicidade. Um Deus que se deixa conhecer, que se deixa escutar. Não nos faz derramar lágrimas, mas enxuga-as; está ao nosso lado misteriosamente e muitas vezes silenciosamente. É neste Deus que devemos confiar.

A Páscoa não nos dá respostas às nossas perguntas sobre a injustiça, a doença, as catástrofes, o mal ou a morte. A Páscoa revela-nos que, para além de tudo isto, é o Amor que tem a última palavra; que, para além de tudo isto, temos de confiar, vivendo com confiança, temos de responder com amor. As únicas respostas que, como cristãos, podemos dar a todos aqueles que nos interrogam, são respostas de amor. De amor ao doente, ao que não tem o essencial para viver dignamente, ao desesperado, ao que faz uma experiência de perda pela morte de alguém que amava, ao que vive sem esperança e desiludido. De amor também ao emigrante e imigrante, ao refugiado com ou sem papéis, recordando-nos que todos, de uma ou outra forma, somos emigrantes nesta vida. Ninguém é proprietário de nenhum pedaço deste mundo. Que todos somos usufruímos do sol, da água e da terra. Há milhares de anos, os nossos antepassados andaram de um para o outro lado (emigração), à procura de um lugar que fosse bom para viver e fixaram-se nas nossas terras. Deixemos de lado o nosso espírito de egoísmo, de desprezo e de falta de respeito pelos que vivem em certos locais. Sintonizemo-nos com Deus que reúne uma grande multidão que ninguém pode contar, de todos os povos, raças e línguas, formando um só povo de irmãos.

A Eucaristia é um banquete universal. É o sacramento daquele banquete onde todos temos lugar, onde a ninguém lhe falta o pão de cada dia, o alimento do corpo e do espírito. Esperando por esse banquete, repetimos o gesto de Jesus de partir o pão, colocando-nos ao serviço dos irmãos, ajudando os que não têm o mínimo para viver com dignidade. Que a nossa participação na mesa de Jesus, nos comprometa com a sua boa nova de amor.

 

LEITURA ESPIRITUAL

«Dou-lhes a vida eterna»

O Senhor diz: «As minhas ovelhas escutam a minha voz. Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me. Eu dou-lhes a vida eterna». Delas tinha dito um pouco antes: «Se alguém entrar por Mim, será salvo; poderá entrar e sair e encontrará pastagem» (Jo 19,9). Entrará efectivamente, abrindo-se à fé; sairá passando da fé à visão e à contemplação, e encontrará pasto abundante no banquete eterno. As suas ovelhas, portanto, encontram pastagens, porque todo aquele que O segue na simplicidade de coração é nutrido com um alimento de eterna frescura. Que são afinal as pastagens destas ovelhas, senão as profundas alegrias de um paraíso sempre verdejante? O alimento dos eleitos é o rosto de Deus, sempre presente. Ao contemplá-lo sem interrupção, a alma sacia-se eternamente com o alimento da vida. Procuremos, pois, irmãos caríssimos, alcançar estas pastagens, onde poderemos alegrar-nos na companhia dos cidadãos do Céu. A alegria festiva dos bem-aventurados nos estimule. Reanimemos o nosso espírito, irmãos; afervore-se a nossa fé nas verdades em que acreditamos; inflame-se a nossa inspiração pelas coisas do Céu. Amar assim já é caminhar. Nenhuma contrariedade nos afaste da alegria desta solenidade interior. Se alguém, com efeito, deseja atingir um lugar determinado, não há obstáculo no caminho que o demova do seu intento. Nenhuma prosperidade sedutora nos iluda. Insensato seria o viajante que, contemplando a beleza da paisagem, se esquecesse de continuar a sua viagem até ao fim. (São Gregório Magno, c. 540-604, doutor da Igreja, Homilias sobre o evangelho, nº 14).

 

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