quarta-feira, 2 de março de 2016

3º domingo da Quaresma--- ano C


O texto apresenta duas partes distintas, embora unidas pelo tema da conversão. Na primeira parte (cf. Lc 13,1-5), Jesus cita dois exemplos históricos que, no entanto, não conhecemos com exactidão (assassínio de alguns patriotas judeus por Pilatos e a queda de uma torre perto da piscina de Siloé). Flávio Josefo, o grande historiador judeu do séc. I, narra como Pilatos matou alguns judeus que se haviam revoltado em Jerusalém. Trata-se do exemplo citado por Jesus? Não sabemos. Também não sabemos nada sobre a queda da torre de Siloé que, segundo Jesus, matou dezoito pessoas… Apesar disso, a conclusão que Jesus tira destes dois casos é bastante clara: aqueles que morreram nestes desastres não eram piores do que os que sobreviveram. Refuta, desta forma, a doutrina judaica da retribuição segundo a qual o que era atingido por alguma desgraça era culpado por algum grave pecado. No caso presente, esta doutrina levava à seguinte conclusão: “nós somos justos, porque nos livramos da morte nas circunstâncias nomeadas”. Em contrapartida, Jesus pensa que, diante de Deus, todos os homens precisam de se converter. A última frase do vers. 5 (“se não vos arrependerdes perecereis todos do mesmo modo”) deve ser entendida como um convite à mudança de vida; se ela não ocorrer, quem vencerá é o egoísmo que conduz à morte.
Na segunda parte (cf. Lc 13,6-9), temos a parábola da figueira. Serve para ilustrar as oportunidades que Deus concede para a conversão. O Antigo Testamento tinha utilizado a figueira como símbolo de Israel (cf. Os 9,10), inclusive como símbolo da sua falta de resposta à aliança (cf. Jer 8,13) (uma ideia semelhante aparece na alegoria da vinha de Is 5,1-7). Deus espera, portanto, que Israel (a figueira) dê frutos, isto é, aceite converter-se à proposta de salvação que lhe é feita em Jesus; dá-lhe, até, algum tempo (e outra oportunidade), para que essa transformação ocorra. Deus revela, portanto, a sua bondade e a sua paciência; no entanto, não está disposto a esperar indefinidamente, pactuando com a recusa do seu Povo em acolher a salvação. Apesar do tom ameaçador, há no cenário de fundo desta parábola uma nota de esperança: Jesus confia em que a resposta final de Israel à sua missão seja positiva.

ACTUALIZAÇÃO
Para reflectir e actualizar a Palavra, considerar as seguintes notas:
• A proposta principal que Jesus apresenta neste episódio chama-se “conversão” (“metanoia”). Não se trata de penitência externa, ou de um simples arrependimento dos pecados; trata-se de um convite à mudança radical, à reformulação total da vida, da mentalidade, das atitudes, de forma que Deus e os seus valores passem a estar em primeiro lugar. É este caminho a que somos chamados a percorrer neste tempo, a fim de renascermos, com Jesus, para a vida nova do Homem Novo. Concretamente, em que é que a minha mentalidade deve mudar? Quais são os valores a que eu dou prioridade e que me afastam de Deus e das suas propostas?
• Essa transformação da nossa existência não pode ser adiada indefinidamente. Temos à nossa disposição um tempo relativamente curto: é necessário aproveitá-lo e deixar que em nós cresça, o mais cedo possível, o Homem Novo. Está em jogo a nossa felicidade, a vida em plenitude… Porquê adiar a sua concretização?
• Uma outra proposta convida-nos a cortar definitivamente da nossa mentalidade a ligação directa entre pecado e castigo. Dizer que as coisas boas que nos acontecem são a recompensa de Deus para o nosso bom comportamento e que as coisas más são o castigo para o nosso pecado, equivale a acreditarmos num deus mercantilista e chantagista que, evidentemente, não tem nada a ver com o nosso Deus.
Por:Portal Dehonianos

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