sábado, 3 de setembro de 2022

Liturgia do XXIII Domingo do Tempo Comum- ano C




a) Os discípulos de Jesus já se tinham apercebido e também expressado este sentimento comum: “estas palavras são demasiado duras”. Jesus anuncia a Boa Nova, através de palavras e de gestos, com uma firmeza e uma exigência que, por vezes, nos assusta e que nos faz procurar esclarecimentos ou interpretações, ou seja, procurar “desculpas” para adaptar a mensagem evangélica à nossa vida. Porventura não teremos medo de ajudar os outros a encontrarem-se com Deus? É evidente que já caminhámos muito no contacto directo, no conhecimento pessoal e vivencial com a Palavra de Deus, apesar de ainda estar muito por fazer. O cardeal Danneels disse esta frase: “Poucas pessoas entram em contacto com a verdade do Evangelho. Os canais de comunicação estão saturados de informações vazias, de pequenas novidades mesquinhas e escandalosas. Tudo isto procura penetrar na pessoa, apostando na curiosidade e no interesse pessoal. São raros os convites à reflexão e à meditação. Raramente se tem a oportunidade de compreender o Evangelho na sua pureza e na sua verdade”. É importante não ter medo de enfrentar a Palavra de Deus.



b) Tantas vezes o evangelho não chega a muitos membros da nossa sociedade e das nossas comunidades paroquiais, ou chega sob a forma de “obrigações e de proibições” morais, ou sob a forma de afirmações dogmáticas rígidas, ou influenciado por determinadas páginas “negras” e de crise da História da Igreja. Perante isto, Danneels interroga-se: “Quem ainda pode escutar? Nestas condições, quem ainda tem acesso à Boa Nova? A casca ainda estará tão dura que não se consegue chegar ao fruto?”. A leitura da Palavra de Deus é um elemento central da nossa celebração, é a primeira das “mesas” da Eucaristia. Procurar que a sua leitura pública seja bem feita – leitores bem preparados, preparação remota e próxima daquele que irá ler, atenção ao género literário da citação, boa qualidade sonora – é um elemento central para uma vida cristã que responda verdadeiramente à proposta de Jesus. É importante velar pela formação bíblica de todos os membros da comunidade cristã, animá-los e dar-lhes subsídios para sua formação contínua. Uma formação bíblica tem que abranger todos os cristãos, desde os que têm alguma responsabilidade pastoral até àquele que aparece em algumas celebrações. Esta formação tem de encontrar na nossa celebração litúrgica uma primeira e simples expressão, mas terá que ter uma linha de continuidade.



c) S. Francisco de Assis afirmava: “Evangelium sine glossa”. É algo que hoje temos de fazer: o evangelho no seu estado puro, sem demasiadas notas de rodapé, sem demasiados comentários que acrescentam sempre um “mas” ao que de radical tem o texto: “Se alguém vem ter comigo, e não Me preferir ao pai, à mãe…Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não pode ser meu discípulo”. Sim, mas… Quantos ainda não deram a sua resposta de fé, porque nunca entraram em contacto directo com a mensagem original, sem filtros. Cada celebração é um momento para ajudar a “mergulhar” na originalidade da mensagem evangélica.





LEITURA ESPIRITUAL

Ser seu discípulo



Escuta a voz de Deus que te impele a sair de ti para seguir a Cristo [...] e serás um discípulo perfeito: «Quem de entre vós não renunciar a todos os seus bens, não pode ser meu discípulo». Depois disto, o que poderás dizer, o que poderás responder? Todas as tuas hesitações e interrogações caem por terra perante esta única frase [...] de Cristo, que também diz noutro sítio: «Quem se despreza a si mesmo neste mundo terá a vida eterna», e: «Se alguém Me servir, meu Pai o honrará» (Jo 12,25-26).



Disse também aos seus discípulos: «Levantai-vos, vamo-nos daqui!» (Jo 14,31). Com esta frase, demonstrou que nem o seu lugar nem o dos seus discípulos é deste mundo. A quem iremos nós então, Senhor? «Onde Eu estiver, aí estará também o meu servo» (Jo 6,68;12,26). Se Jesus nos diz: «Levantai-vos, vamo-nos daqui!», quem será tão insensato que consinta permanecer com os cadáveres nos seus túmulos ou habitar entre os mortos? Assim, quando o mundo te atrair, lembra-te destas palavras de Cristo: «Levantai-vos, vamo-nos daqui!». [...] Quando quiseres sentar-te, instalar-te, comprazer-te em ficar onde estás, lembra-te dessa voz que te impele e diz a ti próprio: «Levanta-te, vamo-nos daqui!»



Seja como for, acabarás por ter de partir. Mas vai como Jesus, porque Ele to disse, e não porque as leis da natureza te obriguem contra a tua vontade. Quer queiras, quer não, vais pelo mesmo caminho daqueles que partem. Por isso, parte por causa da palavra do teu Mestre e não pela necessidade desse constrangimento. «Levantai-vos e vamo-nos daqui!». Esta é a voz que desperta os sonolentos, a trombeta cujo toque afugenta o torpor da preguiça, a força (e já não só palavra) que amiúde reveste aquele que a ouve dum vigor novo e o impele duma coisa à outra num abrir e fechar de olhos. [...] «Levantai-vos, vamo-nos daqui!», e eis que Ele parte contigo. Porque tardas? [...] Deus chama-te a partir em sua companhia. (Filoxeno de Mabug (?-c. 523), bispo da Síria, Homilia n.º 9; SC 44)




http://www.liturgia.diocesedeviseu.pt/

Unidade Pastoral de Aguiar da Beira

Sem comentários:

Enviar um comentário